quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A Mediunidade na Umbanda: perguntas e respostas...

A mediunidade é sempre um tema coberto de mitos e dúvidas em todas as religiões. Na Umbanda não é diferente. Para auxiliar aqueles que desejam conhecer melhor sobre o assunto na Umbanda, foi elaborado este pequeno conjunto de perguntas e respostas. São explanações simples e objetivas destinadas ao leigo, ao iniciante no processo mediúnico e aos integrantes de outras religiões que desejam conhecer mais sobre a mediunidade na Umbanda. O tema é muito amplo e existem muitas teorias divergentes a seu respeito e cada casa religiosa possui suas próprias premissas. O que temos aqui reflete a maneira como é tratado da mediunidade na Casa do Pai Benedito (de onde tiramos esse texto). Para facilitar o entendimento, as dúvidas estão agrupadas em blocos de acordo com seu tema:

A Mediunidade na Umbanda

O que é a mediunidade na Umbanda?
     É um processo onde espíritos de luz, chamados de guias, utilizam de pessoas encarnadas (médiuns) como interlocutores para cumprir uma missão de caridade na terra.

É algum tipo de castigo ou punição?
    Não. A mediunidade na Umbanda é uma oportunidade de trabalho para evolução pessoal e resgate cármico do médium. Ninguém é médium para “pagar o que fez” em uma encarnação passada. É médium porque se propôs a colaborar com o trabalho divino no presente, em busca de um futuro melhor para todos.

Tenho medo. Isso é ruim?
     “O medo é parte integrante da mediunidade”. – palavras de Pai Benedito. O medo é útil quando traz cautela ao médium e o protege de eventuais perigos. É também perigoso quando enfraquece sua confiança e reduz sua sintonia com seus guias de luz. É preciso saber lidar com o medo a seu favor. Não tente eliminá-lo, pois ele só se fortalece. Exercite sua fé e amadureça seu espírito. Assim você vai ver o medo desaparecer gradativamente, sem você fazer força.

Posso “virar” médium se eu quiser?
     Médiuns todos são, embora alguns em grau mais suave. Mas ninguém pode se “candidatar” a médium de terreiro em algum momento da vida. Estas pessoas são escolhidas como instrumentos de trabalho antes de seu nascimento, sua encarnação nesta terra. Passam a ser cuidados e protegidos por seus guias até o momento de iniciar seu trabalho. Contudo, qualquer pessoa pode trabalhar na religião, desde que suas intenções sejam boas e sinceras. Há muitas outras tarefas na religião além do trabalho mediúnico, como: cambonos, ogãs, recepcionistas, palestrantes etc.

Por que os médiuns são chamados de cavalos?
     Esta é, na verdade, uma referência carinhosa dos guias para com seus protegidos. O cavalo é um elemento importante ao povo do interior. É um amigo fiel e instrumento vital ao sertanejo em todos os seus trabalhos. O cavalo é um instrumento vivo, um amigo que leva o sertanejo de forma rápida e segura e o permite alcançar terrenos onde seu condutor sozinho não poderia chegar. O bom médium representa a mesma coisa para seus guias de luz. Os médiuns também são chamados por outros nomes. Os mais comuns são: aparelho, matéria, burro entre outros.

Ser médium envolve algum risco?
     Sim. A mediunidade é a abertura dos canais energéticos do corpo astral para o contato com a espiritualidade. Se o médium se afinar com seres de luz, isso é extremamente benéfico. Caso isso não
aconteça, ele pode ser usado também pela espiritualidade negativa e se transforma em um instrumento da sombra. Por isso, o cuidado com o médium é tão importante, em todos os momentos de sua vida, não só no terreiro.

Como posso me proteger?
     Na verdade, cada casa possui seus próprios métodos: banhos, estudo, conduta moral, trabalhos e mirongas. Mas todos eles se resumem em uma única vertente: Um médium bem cuidado é aquele que
preserva sua ligação com as falanges de luz.

Por que “pego os ‘carregos’ dos outros”?
     “Carregos” é o nome geralmente dados à energias nocivas que as pessoas “carregam” em seu campo astral. Há médiuns que tem a característica de “retirar” essa energia de outras pessoas. Se
isso ocorre no terreiro, não costuma trazer grandes problemas, mas se acontece em todo lugar, é sinônimo que o médium está desprotegido ou em desequilíbrio.

O que são puxadas?
     São processos comuns em alguns terreiros, onde espíritos sofredores ou obsessores de um consulente são “puxados” para o campo astral dos médiuns por meio do magnetismo. Acontecem de forma intencional ou involuntária, para fins de tratamento do consulente e do espírito retirado.

O que é corrente mediúnica?
     É uma força energética de proporções superiores e muito útil, formada por vários médiuns juntos em um trabalho direcionado. Por isso é comum ver médiuns enfileirados cantando juntos em sessões de Umbanda, por exemplo. O que acontece se eu for chamado ao trabalho mediúnico e recusar? Varia de acordo com o médium e a casa. Esta deve ser uma decisão livre, mas existe sim relatos de casos onde isso envolve bastante sofrimento, seja por ignorância do médium ou dos condutores de sua casa.
Mas não é incomum ouvir que o médium vai “apanhar” do santo e sofrer para o resto da vida em casos semelhantes. Na verdade, o trabalho mediúnico é uma oportunidade e não uma condenação. E
este trabalho é combinado entre o médium e seus guias ainda no plano espiritual, antes de seu nascimento. Romper com este acordo traz as implicações cármicas de quem se furta ao compromisso combinado com falanges de luz, e não a “surras” de espíritos.

Por que se diz que alguém está “apanhando do santo”?
     Isso ocorre quando a mediunidade de alguém encontra-se em sério desequilíbrio ele fica sujeito diversas interferências de espíritos em momentos inoportunos de sua vida. Tem diversas causas. Entre elas, o abandono do trabalho espiritual e da proteção por parte de seus guias e protetores.

O que é mediunidade cármica?
     É quando o médium tem um compromisso muito arraigado com seu resgate cármico no trabalho mediúnico. Nestas ocasiões os espíritos tentam de toda forma trazê-lo ao trabalho e, quando ele se recusa, seu desequilíbrio energético e emocional é grande. Há também a chamada mediunidade de missão, ou missionária, quando alguém se propõe ao trabalho mediúnico para seu progresso, mas não
tem compromisso de resgate a fazer. Neste caso os efeitos são mais amenos se por ventura abandonam os trabalhos. Em ambos os casos, a questão é definida antes do nascimento do médium, ainda no plano espiritual. Em ambos, o abandono dos trabalhos é algo muito triste para toda a espiritualidade.

Ao iniciar um trabalho na Umbanda, sou obrigado a permanecer nele para o resto da vida?
     Não. Esta é uma decisão do médium, em parceria com suas entidades de trabalho. O trabalho pode ser interrompido por diversas causas: questões pessoais do médium, saúde, trabalho e até por simples desejo de abrir mão desta oportunidade. Contudo, a pessoa deixa o trabalho mas não deixa nunca de ser médium. É preciso se cuidar.

Como me desligar do trabalho mediúnico?
     Deve-se impreterivelmente conversar com os chefes de seu terreiro. Nunca “saia simplesmente, para nunca mais voltar.” O guia do terreiro é a pessoa ideal para lhe ajudar neste desligamento e tomará as
providências necessárias quando for o caso. Contudo, deve ser uma decisão muito bem refletida. Quando um médium interrompe seu trabalho na Umbanda, ele interrompe também o trabalho de toda
uma falange com centenas de trabalhadores espirituais. O que é muito triste.

Espíritos de umbanda escrevem, psicografam?
     Sim. Depende das características do médium que acompanham.

A Incorporação

O espírito “entra” no médium durante a incorporação?
     Não. Na verdade o espírito se aproxima e encobre o médium com sua energia, conectando-se com ele e assumindo seu corpo através de ligações energéticas em seus chacras. Quanto mais próximo o espírito fica de seu médium, mais intensa é a incorporação.

Existe incorporação fraca?
     Sim. E seus resultados são catastróficos. Quanto melhor for a ligação entre médium e seu guia, mais autêntica é sua manifestação. Daí surge a necessidade de uma boa preparação dos médiuns. Um dos reflexos mais comuns de médiuns “mal incorporados” é o animismo e a mistificação.

O que é animismo e mistificação?
     Animismo é quando o médium manifesta personas de seu inconsciente e não um espírito legítimo. Neste caso, o choro, rizo,alegria, tristeza e o discurso são criados na mente do médium, mas ele acredita que aquilo vem de um espírito desencarnado. A Mistificação é a fraude da incorporação. O médium finge estar incorporado e sabe o que está fazendo. Acontece com médiuns maliciosos, que pretendem enganar as pessoas (normalmente para obtenção de algum benefício) e com médiuns despreparados mas aflitos, que são muito pressionados por seus colegas e passam a forjar a incorporação para se verem livres da cobrança alheia por “resultados”.

Como evitar estes problemas?
     Um bom médium passa sempre por um bom processo de desenvolvimento ou educação mediúnica. Neste processo, ele conhece estas e outras ameaças e se prepara para lidar com elas. Um bom médium nunca é perfeito, mas se prepara constantemente para lidar com suas imperfeições.

Médiuns experientes passam por este tipo de dificuldade?
     Sim. Sempre que a sintonia entre o espírito e o médium se enfraquece, a incorporação torna-se falha. Quando isso acontece, é indicado que o médium restabeleça seu equilíbrio e peça a interrupção de seus trabalhos se julgar necessário. Contudo, é comum que os médiuns enfraquecidos persistam em seu trabalho mesmo assim, por medo de serem criticados ou descredibilizados por seus companheiros de terreiro. Um erro de ambos.

O que são mediunidades consciente e inconsciente?
     Mediunidade inconsciente ocorre quando o espírito toma o médium de tal forma que ele perde a consciência, é como se ele adormecesse. Sua principal vantagem é que, estando “adormecido” o médium não oferece muita resistência ou interferência nas manifestações do espírito guia. Uma desvantagem é que, se tomados por espíritos desordeiros, podem executar tarefas torpes sem que percebam isso com clareza. São médiuns cada vez mais raros. Mediunidade consciente, ou semiconsciente, é aquela onde o médium percebe parcial ou totalmente o que ocorre durante a incorporação. Ele não “adormece”. Uma vantagem é que, se forem bem preparados, eles se mantém alerta à interferência de espíritos desordeiros caso isso ocorra, impedindo sua ação negativa. Uma desvantagem é que, estando mal preparados, eles interferem na manifestação das entidades de luz. Bloqueiam seus comandos e, por vezes, até assumem a condução do trabalho, o que é muito perigoso.

Quais as confusões relacionadas à mediunidade consciente e inconsciente?
     Na verdade, este é um ponto de grande conflito. Muitos médiuns absolutamente despreparados assumem o trabalho de atendimento público e cometem vários erros. Quando o problema vem à tona, a desculpa mais comum é sempre a mesma: “Ah, isso acontece porque ele é médium consciente”. Mas isso é um grande erro. Tais problemas acontecem porque os médiuns são mal preparados e mal
cuidados. Esta postura acabou marginalizando o médium consciente, como se ele fosse sinônimo de médium ruim ou fajuto. A partir daí os conflitos de opinião são inevitáveis. Muitos médiuns conscientes se afligem e mentem, dizendo ser inconscientes, para não serem taxados de fajutos. Outros, partem para o polo oposto, dizendo que médiuns inconscientes “não existem”, para não se sentirem memores que seus colegas. Neste contexto, há ainda os médiuns verdadeiramente inconscientes que escondem sua condição para não serem discriminados por seus colegas. Este é um bom exemplo dos problemas que podem ser criados pela ignorância e falta de preparo do umbandista. Em resumo, há sim médiuns bons e ruins, sejam eles conscientes ou não. Mas isso é devido à sua mal preparação e falta de cuidado, não à sua condição mediúnica.

Existem médiuns fortes ou fracos?
     Sim. Ninguém nesta terra é igual e possui características melhores e piores em todos os aspectos de sua vida, incluindo na mediunidade. Contudo este é um tema delicado e raramente abordado pela espiritualidade. O orgulho e a vaidade dos encarnados os torna particularmente vulneráveis neste ponto, pois quase ninguém está pronto para se ver melhor ou pior que seu irmão. Grandes conflitos,
disputas e perseguições são desencadeadas por conta disso. Assim, costuma-se dizer que “todo mundo é igual,” para evitar conflitos, mas pode-se observar estas diferenças no dia a dia.

Espírito incorporado fala pelo celular?
     Espíritos incorporados se comunicam com outros espíritos à distância sem aparelhos ou instrumentos. Para falar com os encarnados nestes casos é comum que eles enviem seus recados por intermédio de outras pessoas. Contudo, o atendimento espiritual é algo pessoal demais e envolve procedimentos energéticos bem além de uma simples mensagem. Tais tarefas não podem ser feitas pelo celular.

É possível dar consultas pela internet?
     É possível prestar atendimento em todo lugar, até escolhendo batatas no supermercado, pois uma pessoa é médium em tempo integral e não somente no terreiro. Uma boa intuição espiritual pode se tornar uma palavra de alento que transforma a vida de seu vizinho, esteja você onde estiver. Contudo, o trabalho de um médium incorporado é algo muito sério e requer preparações muito sólidas. A internet pode ser usada como meio de recados, assim como telefones. Mas não é capaz de estabelecer o campo energético necessário a um bom atendimento espiritual.

Médium de umbanda em outras doutrinas

Quais as diferenças e semelhanças entre os médiuns de Umbanda e do Espiritismo de Kardec?
     As semelhanças são muitas. Ambos trabalham para o amparo de espíritos encarnados e desencarnados. Mas algumasdiferenças são mais flagrantes. Em sua maioria, os médiuns do Espiritismo se propõem a receber espíritos sofredores necessitados de ajuda, recebendo eventualmente guias de luz para sua orientação. Na Umbanda, o cerne do trabalho do médium é servir de veículos para espíritos de luz que prestam amparo a encarnados e desencarnados aqui na terra. Na Umbanda as faculdades mecânicas são também mais amplamente exploradas pelos espíritos incorporados.

Médium de Umbanda é menos evoluído que os da doutrina de Kardec?
     Existem médiuns em diversos graus de evolução. Seja na Umbanda, no Espiritismo ou em qualquer outra doutrina. Sua evolução está relacionada à sua dedicação ao próprio progresso, não à religião.

O que são “linhas cruzadas com nação na cabeça do médium”?
     Esta é uma expressão comum e também um tema um pouco polêmico. Resumidamente falando, há médiuns com suas falanges de trabalho (equipe de guias e seus trabalhadores) bem definidas. Da Umbanda, do Candomblé (também chamado de “nação”) ou do Espiritismo. Mas há outros onde esta definição não é clara. Linhas diferentes (normalmente de Umbanda e Nação) se interpõem tentando
assumir a frente dos trabalhos. Neste caso a manifestação mediúnica é comumente abrupta, com contorções e movimentos desconexos de natureza relativamente violenta. Quando isso ocorre, o médium precisa de cuidado e esclarecimento para avaliar os caminhos que se abrem a ele em cada vertente religiosa. Ciente disso, ele deve então definir qual vertente deseja seguir.

Um médium de uma religião pode trabalhar em outra?
     Poder até pode, afinal somos todos livres. Mas não é nada aconselhável. Quando um médium é destinado a uma religião, seja qual for, sua falange de trabalhadores espirituais está direcionada àquela doutrina. Se ele muda de religião, estas falanges são obrigadas a se adaptar a uma nova condição, restringir ou até abandonar seu trabalho junto àquele aparelho.

Um médium de Umbanda pode trabalhar em vários terreiros distintos?
     Não é impossível, mas pode ser uma fonte de conflitos, chegando a ser proibido em algumas casas. Cada casa de Umbanda possui uma característica energética muito marcante e distinta, às vezes até antagônicas. Ao frequentar tais casas, o médium se expõe a estas forças e pode entrar em desequilíbrio, prejudicando o seu trabalho e de seus companheiros. Exemplo: Uma casa especializada no corte de demandas (magias negras) possui energia arrebatadora e abrupta. Já uma casa especializada em curas espirituais, necessita de uma energia mais etérea e apurada para prestar um bom serviço. Um médium que frequenta as duas casas pode se tornar frágil demais para as sessões de
descarrego, e enérgico demais para sessões de cura.

As falanges de trabalhadores da Umbanda

O que são os guias na Umbanda?
     São espíritos que atingiram um grau acentuado de iluminação e sabedoria a ponto de poderem assumir a condução e orientação de pessoas encarnadas na terra.

O que são protetores na Umbanda?
     São espíritos que atingiram um certo grau de iluminação, mas não a ponto de assumirem a condução de pessoas encarnadas na terra. Assim, agem como seus protetores.

O que é chefe de cabeça?
     Cada médium tem sempre um espírito que é líder em seus trabalhos. Todas as falanges de trabalhadores ligadas àquele médium estão subordinadas a ele. Este é o chamado “chefe de cabeça”. Comumente é um caboclo ou preto velho, mas pode também pertencer a outras falanges em casos específicos. Por isso se diz que “fulano” tem “tal” caboclo “de frente”, por exemplo.

Como saber meu chefe de cabeça?
     Ele mesmo deve se apresentar. É um erro comum tentar prever isso no momento errado ou o médium tentar “forçar” que seja esta ou aquela entidade, por questões de afinidade.

Qual das falanges é mais forte?
     Nenhuma delas. Cada uma é forte naquilo em que se especializa. As falanges de Umbanda são fortes por trabalharem unidas. Este tipo de disputa, quando acontece, tem origem na imperfeição dos médiuns encarnados.

Falanges distintas podem disputar um médium?
     Este é um tema delicado. De fato acontece, mas não nos moldes como se diz. É comum que os guardiões, ou exus, do médium se coloquem à frente. Isso de deve a duas causa principais: Na primeira, o exu ainda não tem o esclarecimento apropriado e se coloca de fato “na frente” dos outros, por julgar-se “dono” daquele aparelho. Neste caso ele precisa ser esclarecido e orientado. O uso de oferendas é relativamente comum nestas ocasiões. Na segunda causa, é o médium que está tão afinado com a energia do seu guardião, que ele simplesmente não consegue se ligar a outros guias ou protetores. Por magnetismo, ele se liga imediatamente ao guardião, mesmo quando outros falangeiros deveriam incorporar. Exu está apenas ali, de guarda, fazendo seu trabalho. Mas acaba levando a culpa.

Tenho que incorporar todas as falanges de Umbanda?
     Isso não é uma regra geral. Todos os médiuns de Umbanda tem ao menos um caboclo, um preto velho, uma criança a e um exu incorporante em sua falange de trabalhadores Se as outras linhas (ciganos, baianos, boiadeiros, marinheiros etc.) vão incorporar também ou quantos serão, isso varia de acordo com a casa e o médium.

Quantos caboclos ou pretos velhos eu devo ter?
     São muitos os falangeiros que trabalham com um médium, centenas. Mas somente alguns líderes de falange incorporam. Isso é definido na espiritualidade e não pelo aparelho ou pela casa em que ele trabalha.

Gosto mais de trabalhar com uma entidade do que com as outras. Isso é errado?
     Não. Isso é, aliás, muito comum. Errado é impedir que outras entidades trabalhem só porque você gosta de uma delas. Quase todo médium tem mais afinidade com alguma falange específica de trabalhadores.
 
Quando um caboclo bate forte no peito, ou fala muito alto, é porque ele é muito forte?
     Não. É sinal apenas de que ele fala alto, ou que o médium se sente inseguro e forja manifestações extravagantes para reafirmar sua mediunidade diante dos colegas. Tais questões devem ser orientadas pelo chefe de terreiro. É um erro querer imitar a “extravagância” dos outros ou julgá-los extravagantes demais. A raiz destes erros ainda permanece a mesma: a insegurança e o medo de parecer menor diante de seus colegas de terreiro. 

Uma entidade incorporada deve utilizar adereços como cocares, chapéus ou capas?
     Cada casa possui seus instrumentos e não devemos julgá-la melhor ou pior por isso. Na Casa do Pai Benedito utilizamos bengalas, guias e ponteiros. Não utilizamos contudo capas, cocares ou coisas do gênero. É um erro dizer que um espírito depende de tais instrumentos para trabalhar, ou que nenhum espírito jamais deveria utilizá-los. Tal questão está, na verdade, mais ligada às condições de trabalho encontradas aqui na terra do que às necessidades dos espíritos do céu.

Todo exu ri quando incorpora? E por que eles riem?
     Isto é um tipo de sinal, uma identidade de alguns exus. Pode ser usado como um chamado às suas falanges de trabalhadores, como um agente sonoro de energização do ambiente, ou até mesmo como um instrumento de descontração da conversa. Mas não é uma obrigatoriedade. É comum, contudo, médiuns iniciantes forjarem risadas escandalosas ou sinistras em suas manifestações mediúnicas para se afirmarem diante dos colegas. Mais uma vez, um erro devido à insegurança, medo e falta de conhecimento.

O que o meu guardião tem a haver comigo?
     O guardião do médium é um ponto chave em seu progresso, pois os dois possuem normalmente uma afinidade muito grande quanto à natureza de seus resgates cármicos. Mas estes são temas muito delicados e podem gerar confusão se abordados inadequadamente. Devem ser conversados diretamente com entidades apropriadas para tratar do tema.

Existe alguma ligação entre os trabalhadores espirituais do médium e a sua casa religiosa?
     Sim. Afinal, eles se tornam membros daquela equipe de trabalho. Há casos onde as falanges de trabalho de um médium não se afinam com um a espiritualidade da casa onde ele escolheu trabalhar. Se isso ocorre, ele raramente consegue permanecer nesta casa, pois o trabalho fica comprometido em sua raiz.

Um espírito pode se passar por outro durante a incorporação?
     Sim. No caso de espíritos de luz, é raro,mas podem fazer isso para testar seus médiuns em ocasiões apropriadas. Já no caso de espíritos malfeitores, eles podem invadir qualquer sessão mediúnica “fantasiados” com outra roupagem deste que encontrem brechas para isso. Daí a importância de uma casa segura para se trabalhar e de um bom desenvolvimento mediúnico que nos permita identificar claramente a energia dos espíritos que nos assistem. Esta identidade energética, ao
contrário da roupagem, nunca pode ser imitada ou falsificada.

O desenvolvimento e a manifestação mediúnica na Umbanda

Como acontece o desenvolvimento mediúnico?
     Não existe fórmula específica e cada terreiro possui seus próprios procedimentos. No geral, os médiuns iniciantes primeiro devem conhecer e se afinar com o terreiro, até começar a participar das sessões de desenvolvimento. A partir daí, os guias daquele médium vão se aproximando gradativamente o que provoca uma série de sensações no corpo e na mente do médium. As primeiras
manifestações consumam ser irregulares, com espasmos e outras reações que chegam até a ser violentas. Com o passar do tempo, a ligação mediúnica se fortalece sua manifestação se torna cada vez mais natural e fluída, até o ponto de ele estar preparado para o trabalho na Umbanda. Durante este processo o médium apara inúmeras arestas tanto em sua mediunidade, quanto em sua moral e seu íntimo.

Por que ocorrem reações violentas no processo de incorporação?
     Há inúmeras causas. A mais comum delas é a falta de preparo apropriado do médium. No início do desenvolvimento, é comum a entidade desprender energia demais para alcançar o corpo astral do médium, que por sua vez ainda não está preparado para isso. Assim o médium tem a sensação incômoda, de “muita energia estagnada no corpo”. Quando esta energia, por fim, encontra caminho para fluir, isso ocorre subitamente, “tudo de uma vez”. Por isso ocorrem os espasmos e reações violentas. Durante esta fase, é importante que os companheiros de terreiro estejam atentos para evitar que o médium se machuque. A falta de entendimento e excesso de vaidade, contudo, geram mitos do tipo: “Nossa, meu caboclo é tão forte que me quebrou todo...”

Quanto tempo deve durar um desenvolvimento mediúnico?
     O bom desenvolvimento não é medido em tempo, mas sim em qualidade. O processo deve durar o quanto for necessário para que o médium esteja seguro e capaz de desempenhar suas funções.

Um médium que não concluiu seu desenvolvimento pode atender pessoas?
     Poder não pode, mas acontece. Este é um ponto polêmico na maioria dos casos. Não é raro médiuns em processos iniciais de desenvolvimento serem escalados para atender consulentes. Assim como também não é raro estes consulentes saírem das  consultas confusos e com altos graus de perturbação. Os riscos são grandes para o médium, para o consulente e para todos ao seu redor. Mas quando isso ocorre, todos têm sempre alguma desculpa que justifique sua postura e mascare seus
erros. A nossa casa tem uma norma interna: nenhum médium pode trabalhar incorporado no terreiro antes de concluir seu desenvolvimento mediúnico.

É possível que o médium não esteja incorporado com espírito algum, embora se manifeste como se tivesse?
     Sim. Isso pode ocorrer por engano do médium (o animismo) ou pela ação de médiuns fraudadores (a mistificação). Tal fato é, infelizmente, mais comum do que se imagina. No caso do animismo, são
permitidos em alguns terreiros quando há questões psíquicas ou cármicas muito arraigadas envolvendo o médium. É uma atitude de caridade, pois mesmo à sua maneira, estes médiuns estão recebendo auxílio da espiritualidade superior naquele instante. No caso da mistificação, jamais deveriam ser permitidos. Mas nem sempre os dirigentes do terreiro tem olhos a perceber isso. Nenhum médium jamais deve prestar atendimento ao público em qualquer uma destas situações.

O que é “cangar” o médium?
     É como as entidades denominam o processo de desenvolvimento. “Cangar” significa “preparar” o médium para o trabalho.

O que é “pembar” o médium?
     É um tema delicado e controverso. Em linhas gerais, é quando um chefe de terreiro usa de feitiços e mirongas para subjugar seus médiuns. Na maioria dos casos é usado como instrumento de ameaça ou vingança. Tal prática geralmente é vedada.

Qual a diferença na incorporação de orixás?
     Orixás não incorporam, pois sua energia é intensa demais para que o corpo astral de um médium possa suporta esta ligação. Contudo estes orixás possuem seus encarregados, espíritos também superiores, porém de luz mais tênue. Ainda assim sua luz é intensa demais para permitir uma incorporação completa. São estes que se manifestam em giras de orixá nos terreiros de Umbanda. Eles apenas se aproximam do médium para toma-lo como veículo na irradiação de sua energia pelo plano físico terrestre. Por isso, durante estas incorporações, o médium não fala, se move de maneira restrita e, comumente, ritmada, como se estivesse aplicando passes energéticos.

É possível o médium incorporar o “espírito errado”?
     Se for despreparado, sim. É comum o médium ansioso se afobar durante o processo de desenvolvimento, no afã de manifestar diversos espíritos. Com isso, abandona sua condição de passividade e passa a conduzir a incorporação, ao invés de permitir que o espírito faça isso. Em um tipo de reação anímica, ele acredita estar incorporado com uma entidade quando, na verdade, que está presente é outra, que pouco pode fazer além de assistir à tudo de forma lastimosa. Durante o desenvolvimento, dedique um tempo para afinar sua percepção sobre as entidades que o cercam. Procure conhecê-las e nunca se coloque à frente delas. Você deve se oferecer como instrumento da
espiritualidade e não a espiritualidade se prontificar ao seu serviço.

Como se explica o fato de, por exemplo, Maria Padilha estar incorporada em vários lugares e vários médiuns diferentes ao mesmo tempo? É possível se incorporar em vários médiuns simultaneamente?
     É possível sim, como descrito na literatura de Kardec, que espíritos de alta envergadura se manifestem em vários médiuns ao mesmo tempo, mas não é este o caso no terreiros de Umbanda. Maria Padilha, 7 flechas, Pena Branca entre outros são nomes das falanges de trabalho. Todos os espíritos pertencentes àquele grupo se manifestam com o mesmo nome quando estão em terra. Mas tratam-se de espíritos, de individualidades diferentes. Assim, não é a Padilha que está em vários lugares ao mesmo tempo. São vários espíritos da mesma falange, em vários lugares, utilizando o mesmo nome.

Por que as entidades se manifestam de forma semelhante?
     Para um médium vidente, é fácil identificar qual espírito está incorporado. Basta “ver”. Mas para a maioria das pessoas, não é simples assim. Por isso, cada falange de trabalhadores possui comportamentos, movimentos e sons que nos auxiliem a identificar sua presença. Caboclos costumam bater no peito, pretos velhos curvam-se frequentemente e exus dão boa noite a todos, mesmo quando é dia. Estas são algumas destas características. Por trás de cada uma delas, há ainda outros conceitos particulares, que variam muito de acordo com a falange espiritual e o terreiro onde ela trabalha.

É possível que um uma entidade “imite” a outra quando incorporada?
     A imitação é possível e até muito comum, mas não por parte da entidade. Cada espírito tem sua própria individualidade. O ideal seria que todo médium oferecesse condições ideais para que eles se manifestassem segundo sua própria natureza. Porém, devido principalmente à ansiedade dos médiuns iniciantes ou má preparação dos médiuns experientes, eles mesmos buscam referências em outros espíritos para se sentir mais confiantes e passam a imitá-los. Esta questão, contudo, envolve muitos detalhes e deve ser tratada somente pelos dirigentes e entidades comandantes de cada casa. Médiuns que se julgam capazes de “decidir” qual manifestação é autêntica ou não podem tornar-se alvos fáceis da espiritualidade sombria e desencadear conflitos sérios no terreiro.

Como devo saber o nome das entidades que vão trabalhar comigo?
     Elas devem se apresentar. Evite ficar imaginando como isso seria, pois a ansiedade pode prejudicar seu progresso.

Por que é pedido que as entidades risquem ou cantem seus pontos?
     Estes são instrumentos de confirmação da presença da entidade junto a seu médium. Estes pontos são chaves da identidade dos espíritos e suas falanges, somente um médium bem incorporado pode traçá-los
corretamente.

Com saber se o ponto riscado pela entidade está correto?
     Isso é sabido pelas entidades chefes do terreiro e deve ser confirmado por elas. Quando o traçado ou o ponto cantado estão perfeitos, ele é autenticado pelo regente da casa. Quando algo está errado, o médium é carinhosamente orientado pelo guia a se preparar melhor, para permitir uma incorporação mais fidedigna na próxima oportunidade

“Sou eu ou a entidade que está falando?” Como se livrar da eterna dúvida?
     Esta é talvez a dúvida mais comuns aos médiuns iniciantes. E se sua resposta fosse simples, não seria mais dúvida alguma. Na verdade, a interferência de médiuns no contexto da incorporação é muito comum no princípio do desenvolvimento e deve ser encarado como algo normal. Somente com o exercício, o médium diminui sua ansiedade e cede espaço para que a entidade se manifeste com liberdade e clareza. Durante este período o médium precisa de entrega absoluta esta experiência. Ignorar o julgamento alheio e recorrer sempre aos dirigentes do terreiro para ajustar o que for preciso.
Não há regras absolutas. Contudo, há alguns indicadores típicos de interferência dos médiuns seja na comunicação, seja na movimentação do corpo. O médium está comumente travado, restringindo a ação da entidade, quando:

- A entidade incorporada não fala nada, mal se move nem sai do lugar;
- O médium tropeça, se desequilibra ou cai com frequência no processo de aproximação;
- O médium inicia o processo de incorporação mas ele se rompe “no meio do caminho”.

Por outro lado, são indicadores de animismo, de exacerbação da ação do espírito, quando:

- A entidade grita muito, fala muito alto ou se movimenta exageradamente;
- Quando há um excesso de tiques nervosos,
sotaques ou ações incompreensíveis;
- Quando o que ele diz não corresponde com a realidade ocorrida;
- Quando o espírito manifesta opiniões que na verdade são do médium e não dele.

     Este último caso é sempre uma questão delicada de se analisar. Contudo há uma dica que pode ajudar: A palavra de um espírito de luz possui um tipo de sabedoria claramente identificada em seu discurso, mas que dificilmente pode ser vista no discurso do encarnado. Eles não tomam partido em conflitos terrenos. Guardam uma imparcialidade ímpar nestes conflitos, mesmo quando seus aparelhos estão envolvidos, pois reconhecem todos como filhos de Deus carentes de esclarecimento e auxílio nesta terra. Esteja atento a este tipo de sabedoria. Onde você encontrá-la, estará falando com um guia autêntico.

Devo conversar com entidades incorporadas nos outros médiuns em desenvolvimento mediúnico?
     Isso varia de acordo com as regras de cada casa. Em linhas gerais, é bom porque serve
de exercício para o médium em desenvolvimento. À medida que a conversa flui, a entidade fortalece sua ligação e reduz as interferências do aparelho na comunicação. Mas isso requer alguns cuidados. Deve-se ter em mente de que tratam-se de médiuns “em desenvolvimento”, por isso passíveis de falhas e interferências na comunicação (o que é perfeitamente normal nesta fase). As mensagens devem ser analisadas antes de serem tomadas como verdade. Nestas ocasiões há um risco especial quando as pessoas envolvidas são parentes ou conhecidos muito próximos, pois o risco de
interferência do médium é ainda maior devido à questões armazenadas em sua
mente.

Por que saímos tão esgotados de algumas sessões de desenvolvimento mediúnico?
     Há várias causas. Os médiuns realmente despendem muita energia na tentativa de estabelecer uma boa conexão mediúnica no início do desenvolvimento. Carências na preparação do médium ou da corrente também podem trazer este efeito, como a falta de um banho de ervas adequado ou a perda de energia para entidades mal intencionadas. Contudo, existe outra causa comum, sem ser necessariamente um problema. Em um dado momento do desenvolvimento, a entidade chefe de cabeça do médium assume a frente dos trabalhos e passa a recolher sua energia para que ela seja distribuída entre todos os espíritos que fazem parte de sua corrente de trabalho. Com esta energias eles formam um tipo de chave de proteção. Somente aqueles espíritos que possuem esta chave tem acesso ao campo astral daquele médium, tornando-o resistente à ação de espíritos desordeiros ou sofredores. Todos passam por isso embora, na maioria dos casos, nem percebam.

Para que servem os banhos durante o desenvolvimento?
     São instrumentos de harmonização e sintonização do corpo astral do médium com seus guias espirituais. Ao tomar estes banhos, o médium desenvolve previamente um tipo de energia receptiva
ao espírito que se aproximará dele. A sintonia e incorporação nestes casos ocorre muito mais facilmente.

Posso pedir que as entidades que trabalham comigo não usem fumo ou bebida? Para que eles servem?
     Esta é uma questão bastante mal compreendida. Inicialmente, as entidades de Umbanda não fumam. Elas usam o fumo com um tipo de defumador, de agente de limpeza das energias deletérias que carregamos. Quando eles fazem uso desta ferramenta no desenvolvimento, é justamente para depurar seu aparelho mediúnico e, assim, permitir incorporações mais fáceis e firmes. Se o médium impede o seu uso, impede também este procedimento e dificulta seu progresso. A questão da bebida alcoólica é similar. É usada também para limpeza, porém de natureza mais profunda, comumente nos
trabalhos e incorporações de exus. Contudo, a ingestão da bebida em médiuns não devidamente preparados ocasiona efeitos nocivos, onde médiuns chegam ao final da sessão completamente bêbados sob a alegação de que a “entidade bebeu muito”. Isso gera uma abertura muito perigosa para a ação dos espíritos da sombra no terreiro. Por isso, a ingestão de bebidas é proibida em muitas casas. Quando cachaça é necessária, seu uso é sempre externo, nunca ingerido pela entidade incorporada.

Para que servem os trabalhos e oferendas? Eles são necessários?
     A necessidade ou não é questionada dependendo da vertente religiosa do iniciado. Controvérsias à parte, eles são muito úteis. São instrumentos de movimentação da energia necessária para a sintonização energética entre um médium e suas entidades de trabalho. Caso esta energia não seja acionada por meio de oferendas, terá que ser feita de alguma outra forma. 

O que é “fazer camarim”?
     Este é um termo de origem nos cultos africanos. É um período em que o médium fica recolhido no terreiro sem contato com o mundo externo. Vários trabalhos de iniciação do médium podem ser feitos nesta ocasião. O período pode variar de algumas horas, dias, semanas ou até meses. Dentro das premissas definidas por Pai Benedito em nossa casa, estes trabalhos nunca envolvem sacrifício de animais ou rituais de sangue.

O que é “coroação”?
     É como se chama a iniciação do médium. Um tipo de “Primeira Comunhão” na Umbanda. Após o seu primeiro camarim, o médium é “coroado” em uma celebração muito bonita e torna-se oficialmente apto a trabalhar como um “cavalo de terreiro”,incorporado com entidades de Umbanda.

REFERÊNCIA: 

A Mediunidade na Umbanda: Perguntas e Respostas (Tenda Espírita Pai Benedito de Aruanda).

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Os Fluidos e o Passe...

Que são fluidos?
Os fluidos são o veículo do pensamento dos Espíritos, tanto encarnados quanto desencarnados. Todos estamos mergulhados no fluido cósmico universal, substância básica da Criação, que varia da imponderabilidade até a ponderabilidade. Os fluidos espirituais estão impregnados dos pensamentos dos Espíritos, portanto varia de qualidade ao infinito. A atmosfera fluídica é formada pela qualidade dos pensamentos nela predominantes.


O que é o Passe?
É a transferência de fluidos de uma pessoa a outra, através da prece e imposição de mãos, procedimento largamente usado nos centros espíritas. As energias são oriundas dos fluidos humanos (do passista) e fluidos espirituais (dos Espíritos que trabalham com a equipe de médiuns). Existem três tipos de magnetismo: o humano, o espiritual e o misto. O tipo de magnetismo utilizado nas casas espíritas é o misto, pois à ação dos encarnados soma-se a ajuda benéfica dos Espíritos que trabalham na área, qualificando, direcionando e potencializando os fluidos.


O que é um passe anímico?
Animismo é um termo usado para designar a ação oriunda do próprio médium. Passe anímico é aquele em que se utiliza o magnetismo humano (do médium). Allan Kardec nos ensina que os fluidos oriundos do magnetizado sempre recebe a ação espiritual, mesmo que ele não acredite nisso, pois todos possuem anjos guardiães ou guias espirituais. Além do mais, estando mergulhado no fluido cósmico universal, o passista sofre a ação do mundo espiritual sobre ele. Nos centros espíritas, onde teoricamente os Espíritos estarão trabalhando em muito maior escala, não se concebe que tenha um passe sem a ajuda deles. Seria um contra-senso. Os passes aplicados nos centros espíritas não são, portanto, anímicos. Algumas técnicas e conceitos sobre o passe foram divulgadas no Movimento Espírita por Edgar Armond (um esoterista que converteu-se ao Espiritismo) e ainda o são, pela Federação Espírita do Estado de São Paulo - FEESP, orientada no passado por ele. É daí que vem as teorias dos passes anímicos e outros tantos que vemos nas casas espíritas. Mais instruções sobre o assunto podem ser encontradas na apostila Espiritismo para Iniciantes, no capítulo "O Passe".


Existe passe especial?
O passe especial foi uma denominação inadequada dada ao passe ministrado às pessoas em tratamento nos centros espíritas. Logo foi visto como sendo "diferente" e as pessoas querem recebê-lo a todo custo. Na maioria das vezes é desnecessário, pois o passe convencional atende às necessidades gerais. A diferença entre os passes está na equipe espiritual que secunda os passistas no momento do atendimento, no tempo de imposição das mãos sobre o paciente e nas diversas fases do processo terapêutico utilizado nas casas. E, é claro, depende das condições morais de quem o aplica. De nada adiantam técnicas, formas ou teorias especiais se o passista for pessoa de má índole ou não trabalhar por sua depuração moral.


Qual diferença entre passe magnético e passe espiritual?
O passe magnético é aquele onde a energia utilizada provém apenas do encarnado, ou seja, é utilizado o magnetismo humano. No passe espiritual são utilizados os fluidos dos Espíritos, que do mundo invisível agem sobre os indivíduos. No passe misto existem os dois tipos de fluidos, o humano e o espiritual, sendo largamente utilizado nos centros espíritas na cura das doenças físicas e psíquicas.


Existem milagres?
O milagre é fenômeno que não se consegue explicação racional e nos parece sobrenatural. Na verdade é apenas a manifestação intencional (provocada por agentes conscientes) ou espontâneas (causadas por agentes inconscientes) de determinadas leis da natureza, ainda desconhecidas pelo homem. Deus criou leis perfeitas e imutáveis. Se o milagre existisse seria uma transgressão a estas leis. O que existe é a ignorância dos princípios que regem as leis de Deus. O que pode parecer milagre para uns, é perfeitamente explicável para outros. Por exemplo um índio selvagem que visse um eclipse do sol, acharia aquilo um milagre, mas estudando astronomia, percebe que um astro se sobrepõe a outro com um fenômeno natural. A ciência ajuda na desmistificação dos milagres. Chegará o dia em que em todos conhecerão as leis que regem os fluidos, a mediunidade, a influência do mundo espiritual sobre o mundo físico, a ação dos Espíritos sobre a matéria etc.


Com relação à água fluidificada, a quantidade de um recipiente pode ser tomada por todos os membros de uma família, ou teria que ser um recipiente para cada membro da família?
A água fluidificada é considerada magnetizada pelos Espíritos, contendo portanto alterações ocasionadas pelos fluidos salutares ali colocados para o equilíbrio de alguma enfermidade física ou espiritual. Deve ser usada como um medicamento. Manda o bom senso que não se usem remédios sem necessidade, portanto só deve usar a água fluidificada quem estiver necessitando dela. O hábito de levar para casa litros e litros de água fluidificada para ser usada por toda a família todos os dias, não faz sentido, quando a prevenção energética ou reposição de fluidos do corpo espiritual é feito através do passe regular.


Por que fechar o vaso que contém a água a ser fluidificada?
O frasco que contém a água a ser fluidificada tanto pode estar aberto quanto fechado. Por uma questão de higiene certamente que será muito melhor que ele esteja com tampa. Isto não influi no resultado da magnetização, pois as substâncias colocadas na água pelos Espíritos que trabalham na fluidoterapia, através da imposição das mãos dos encarnados, atravessam os campos da matéria tangível com facilidade.


Qualquer pessoa pode aplicar passes?
Sim qualquer pessoa pode doar de suas energias, mas nem todos devem fazê-lo, pois a condição moral do indivíduo influencia diretamente na qualidade dos fluidos doados. A tarefa do passista, como qualquer outra que se desempenha no campo religioso, carece de preparo moral e esforço constante para vencer as más inclinações. Só a boa vontade não basta. Os Espíritos superiores ensinam que os fluidos espirituais podem ser alterados quando passam pela estrutura do encarnado e que apenas a moralização deste pode dar a garantia de bons resultados. Daí a razão pela qual nem sempre as pessoas se beneficiam com os passes a que se submetem por anos a fio nas casas espíritas que não primam pela boa qualidade espiritual de suas práticas.


A atividade do princípio vital está condicionada ao trabalho dinâmico dos órgãos? Ou seja, os órgãos são a causa geradora do princípio vital?
É o contrário. Allan Kardec diz que o princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos, mas uma coisa depende da outra, ou seja o princípio vital não existe sem a matéria e a matéria não tem vida sem o princípio vital. Os Espíritos afirmam que uma das modificações mais importantes do fluido universal é o fluido vital. Ele é o responsável pela força motriz que movimenta os corpos vivos. Sem ele, a matéria é inerte. Podemos dizer que ele é responsável pela animalização da matéria, pois, segundo os Espíritos, a vida é resultado da ação de um agente sobre a matéria. Esse agente é o fluido vital. É ele que dá vida a todos os seres que o absorvem e assimilam. A matéria sem ele não tem vida assim como ele sem a matéria não é vida. Quando os seres orgânicos perdem a vitalidade, por ocasião da morte, a matéria se decompõe formando novos corpos e o fluido vital volta à massa, ao todo universal, para novas combinações e utilizações no Universo.


No caso dos vegetais e animais como funciona o princípio vital?
Da mesma maneira, ou seja, produzindo energia, como uma força motriz.


O princípio vital absorvido pelo corpo humano é o mesmo que anima os animais e vegetais?
O princípio vital é o mesmo, mas sofre modificações segundo as necessidades das espécies.


O fluido animalizado do médium, nome dado por alguns autores, é o mesmo que ectoplasma?
É a mesma coisa. Apenas uma questão de forma.


No caso da escrita direta, com ou sem utilização do lápis pelo Espírito, é necessário o fornecimento do ectoplasma para se dar o fenômeno?
Sim, em todos os fenômenos, inclusive de cura, é necessário o ectoplasma.


O que é água fluidificada?

É a água magnetizada por fluidos espirituais e humanos, realizada com as preces e imposição das mãos.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Análise do Pai Nosso...

Análise do Pai Nosso

Sérgio Biagi Gregório


SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. O Texto Evangélico. 4. Os Sete Itens da Oração Dominical. 5. Conclusão. 6. Bibliografia Consultada.


1. INTRODUÇÃO

     O objetivo deste estudo é refletir detalhadamente sobre cada um dos itens que compõem a oração dominical, ditada por Jesus.

2. CONCEITO

Análise – Segundo a etimologia grega, significa decompor e discernir as diferentes partes de um todo, mas também reconhecer as diferentes relações que elas mantêm, quer entre si, quer com o todo. 

Pai Nosso – É o mais perfeito modelo de concisão, verdadeira obra-prima de sublimidade na simplicidade. Com efeito, sob a mais singela forma, ela resume todos dos deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão; o pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade. (Equipe da FEB, 1995)

3. O TEXTO EVANGÉLICO

     A oração dominical está inserida no capítulo VI de O Evangelho Segundo Mateus, o qual trata, além deste tópico específico, a prática da justiça, como se deve dar esmolas, como se deve orar, como jejuar, os tesouros do céu, a luz e as trevas, os dois senhores e a ansiosa solicitude pela vida. Para o tema em questão, Interessa-nos transcrever:

a) Como se deve orar:

“E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orardes, entra no teu quarto, e, fechada a porta, orarás a teu Pai que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais”. (Mateus 6, 5 a 9).

b) A oração dominical:

“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino, faça-se a vossa vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dai-nos hoje; e perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação; mas livrai-nos do mal (pois vosso é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém). Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens (as suas ofensas), tão pouco o Pai vos perdoará as vossas ofensas”. (Mateus 6, 9 a 15)  

4. OS SETE ITENS DA ORAÇÃO DOMINICAL

Extraído do 28.º capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo  (itens 2 e 3).

1) Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome.

     A palavra Pai refere-se a Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas; Céu significa o universo, os diversos mundos habitados. Santificado seja o vosso nome mostra que devemos crer no Senhor, porque tudo revela o seu poder e sua bondade. A harmonia do universo testemunha essa sabedoria. Por isso, todos deveriam reverenciar o seu nome em quaisquer circunstâncias. De acordo com o Espírito Emmanuel, “a grandeza da prece dominical nunca será devidamente compreendida por nós que lhe recebemos as lições divinas. Cada palavra, dentro dela, tem a fulguração de sublime luz. De início o Mestre Divino lança-lhe os fundamentos em Deus, ensinando que o Supremo Doador da Vida deve constituir, para nós todos, o princípio e a finalidade de nossas tarefas... Em seguida, com um simples adjetivo possessivo, o Mestre exalta a comunidade. Depois de Deus, a Humanidade será o tema fundamental de nossas vidas”. (Xavier, s.d.p., p. 167)

2) Venha o vosso reino.

     Deus apresentou-nos leis cheias de sabedoria e que fariam a nossa felicidade se as observássemos. Obedecendo a essas leis, que estão escritas em nossa consciência, faríamos reinar entre nós a paz e a justiça. Praticando a excelsa caridade, todos nos ajudaríamos mutuamente, expulsando por completo o mal de nosso planeta, pois todas as misérias vêm da violação dessas leis, porque não há uma só infração que não tenha conseqüências fatais.

3) Seja feita a vossa vontade, na Terra, como no céu.

     Sabemos que a submissão é um dever do inferior para com o superior, do filho com relação ao pai. Não haveria uma razão ainda maior de nossa submissão com relação Àquele que nos criou. Ainda nos falta um sentido para compreender a existência de Deus. Contudo, conforme formos depurando o nosso Espírito do jugo da matéria, vamos também aumentando a nossa capacidade de conhecer os atributos da divindade. A atitude fundamental da prece deve ser de obediência, de adesão à vontade de Deus, de harmonização entre nós e a sua Lei, que é perfeita. Acontece que dada a nossa imperfeição oramos às avessas, ou seja, ao invés de nos conformarmos com a Lei queremos burlá-la, tornando senhores de Deus, através de pedidos de ordem inferior. O Espírito Emmanuel comenta esta passagem dizendo-nos que é comum a alteração dos votos que formulamos ao alto. Muitas petições endereçadas à Vida Maior, em muitas ocasiões, quando atendidas, já nos encontram modificados por súplicas diferentes. Ele afirma: “Em circunstâncias diversas, acontecimentos que nos parecem males são bens que não chegamos a entender, de pronto, e basta analisar as ocorrências da vida para percebermos que muitas daquelas que nos afiguram bens resultam em males que nos dilapidam a consciência e golpeiam o coração”. (Xavier, 1986, p. 318)

4) Dai-nos o pão de cada dia.

     “Dai-nos o alimento para a manutenção das forças do corpo; dai-nos também o alimento espiritual para desenvolvimento do nosso Espírito... Uma vez que a lei do trabalho é a condição do homem na Terra, dai-nos a coragem e a força para cumpri-la; dai-nos também a prudência, a previdência e a moderação, a fim de não lhe perder o fruto”. Inspira-nos sempre bons pensamentos para que tenhamos em mente um trabalho profícuo. E se, porventura, a sociedade nos recusar tal mister, que saibamos ter a necessária resignação para com a vontade divina a nosso respeito. O Espírito Emmanuel, em Fonte Viva, capítulo 18 (Não Somente), traça alguns pensamentos a respeito da relação entre os cuidados materiais e os espirituais. Não somente o agasalho, a beleza física, o domicílio confortável e os títulos honrosos, mas também o refúgio de conhecimentos superiores que fortaleçam a alma, a formosura e a nobreza dos sentimentos, a casa invisível dos princípios edificantes e as virtudes que enriqueçam a consciência eterna.
  
5) Perdoai as nossas dívidas como nós as perdoamos àqueles que nos devem. Perdoai nossas ofensas, como perdoamos àqueles que nos ofenderam.

     “Cada uma das nossas infrações às vossas leis, Senhor, é uma ofensa para convosco, e uma dívida contraída que nos será preciso, cedo ou tarde, pagar. Para elas solicitamos o perdão de vossa infinita misericórdia, sob a promessa de fazer esforços para não contrair novas dívidas”.  Um estudo acurado sobre o perdão leva-nos a interpretá-lo de forma diferente daquela que é feita simplesmente pela repetição de frases feitas. Falamos que devemos perdoar não sete, mas setenta vezes sete vezes, que devemos esquecer a ofensa, que devemos nos ajustar com o adversário enquanto estivermos a caminho. Mas, na prática, como é que funciona? Estamos bem longe de praticar esses atos com conhecimento de causa. Muitos até dizem: eu perdôo, mas não quero mais vê-lo na minha frente. A prática correta do perdão, a que estabelece o esquecimento da ofensa, tem valor científico. Em primeiro lugar, como o acaso não existe, tudo o que se nos acontece deve ser bem meditado. Antes de maldizer o ofensor, o correto seria agradecer a Deus por tê-lo colocado em nosso caminho para ser motivo de nossa paciência. Uma coisa que deve ficar clara: ninguém ofende ninguém. A ofensa é subjetiva e, como tal, somente nos sentiremos ofendidos se assim o interpretarmos. A ofensa é, antes de tudo, um agravo à Lei de Deus. Nesse sentido, o ofensor feriu-se a si mesmo, pois se desviou da lei de Deus e deverá, cedo ou tarde, fazer o seu ajustamento. Diante desse ensinamento, nunca deveríamos, em hipótese alguma, fazer justiça com as próprias mãos, pois ao invés de eliminar um mal estaremos cometendo outro. Não se apaga o fogo com mais fogo, mas com água.

6) Não nos abandoneis à tentação, mas livrai-nos do mal.

     “Dai-nos, Senhor, a força de resistir às sugestões dos maus Espíritos que tentarem nos desviar do caminho do bem, em nos inspirando maus pensamentos”. Cada imperfeição é uma porta aberta à sua influência, ao passo que nada podem, e renunciam a toda a tentativa, contra os seres perfeitos. Por isso deveríamos nos humilhar diante da dor e do sofrimento, rogando forças para eliminar de nós mesmos a imperfeição, a tentação, que é atrai os Espíritos menos felizes.

7) Assim Seja.

     Esperamos que os nossos desejos se cumpram! Mas nos inclinamos diante a vossa sabedoria infinita. Sobre todas as coisas que não nos é dado compreender, que seja feito segundo a vossa vontade e não segundo a nossa, porque não quereis senão o nosso bem, e sabeis melhor do que nós o que nos é útil.

5. CONCLUSÃO

     Saibamos orar e tenhamos confiança na Divina Providência. A fé que não enfrenta o ridículo dos homens não é fé verdadeira.

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo: IDE, 1984.
XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, s.d.p.
XAVIER, F. C. Palavras de Vida Eterna, pelo Espírito Emmanuel. 8. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1986.
São Paulo, março de 2003

REFERÊNCIA:

GREGÓRIO, S.B. Análise do Pai Nosso. Disponível em:<http://www.sergiobiagigregorio.com.br/palestra/analise-pai-nosso.htm>. Acesso em: 25/092014.